05 março 2007

Furo editorial




Em primeira mão, o editorial da edição 03.07 do Infobíblico:

Com toda a certeza você já gostou de ouvir, ou de cantar, frases como estas: “Em todas as coisas somos mais do que vencedores.”; “Posso todas as coisas naquele que me fortalece.”; “Maior é o que está em nós do que o que está no mundo.” E outras tantas, tiradas ou não da Bíblia, ditas e memorizadas para aqueles momentos difíceis e espinhosos. Frases de efeito que se insinuam para despertar auto-estima, pensamento positivo e triunfante.
Mas, será que era essa a idéia daquele que inspirou a Paulo e a João, enquanto escreviam suas cartas?

Ao tratar da vitória sobre todas as coisas, referidas por ele anteriormente (acusação, condenação, tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada), Paulo afirma que esta vitória é obtida por meio daquele que nos amou (Deus, em Cristo Jesus) – Romanos 8.33 a 37. A seguir, Paulo descreve outra lista (morte, vida, anjos, principados, presente, futuro, altura, profundidade, qualquer criatura) para afirmar que nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor – Romanos 8.38,39. Note que Paulo, em momento algum, dá margem a que se pense que os que estão em Cristo Jesus não possam enfrentar qualquer uma das dificuldades que ele cita. Claro, vivendo em um mundo caído, como pessoas limitadas e carentes de Deus, viver dias maus, ter dificuldades, estarmos expostos a desilusões e tristezas – enfim, aqueles momentos espinhosos – faz parte da vida aqui. E passamos por isso. O conforto vem da certeza de que nada poderá nos separar do amor de Deus. E que “os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.” (Romanos 8.18). É falsa a idéia de que sofrer é não estar em comunhão com Deus. É falso pensar que a dor deve ser evitada (você já ouviu: “Pare de sofrer agora, Jesus tem para você toda a vitória”?). A realidade deste mundo caído, ainda que não nos agrade, é ocasião para nos achegarmos a Deus, dependentes e sem exigências, considerando os benefícios de passar pela dor. O próprio Cristo foi muito franco ao afirmar: “No mundo passais por aflições”, contudo ele mesmo se dispôs a estar conosco – “mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16.33).

Em sua “carta da alegria” (embora escrevesse enquanto estava preso), Paulo atribui sua capacidade de tudo poder (enfrentar, suportar) a Jesus Cristo. Mais o que é este “tudo”? “Porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei ser humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez” – Filipenses 4. 11b, 12). Acontece que nos identificamos com o se dar bem e com os aspectos “positivos”, como fartura e riqueza, afinal, Deus nos constituiu por cabeça e não por cauda... Diga isso para Jó. E para Paulo, também. É por separar textos da Palavra de Deus dos seus contextos que muitos têm estado nas igrejas apenas para barganhar bênçãos, sem compromisso fortalecido. Cedo, a decepção de um mundo real e caído os visita e lá vão eles (e elas), doentes no espírito e enfraquecidas como pessoas. E a instituição igreja, que deveria acolher e edificar, termina por naufragar a vida das pessoas que deveriam ser seu alvo para levar as boas notícias do reino de Deus. Fuja das idéias triunfalistas. Elas te afastam do Deus bíblico. O “tudo posso em Cristo Jesus” não nos torna super-heróis deste mundo anormal. Mas nos embeleza a vida, na medida em que a fartura e a abundância, a fome e a escassez não nos tiram de fiarmo-nos no Deus Todo-amor que se importa com a nossa pequenez e nos conduz para além dos dias que podemos contar.

O apóstolo do amor, João, em sua primeira carta, aborda temas vitais como a justiça, o amor e o conhecimento certo (a verdade), em meio ao pensamento gnóstico que procurava seduzir a comunidade cristã a quem a carta é endereçada. Tratando a respeito dos falsos profetas (1a Carta, capítulo 4, versos 1 a 6), João encoraja aos seus leitores (a nós, também) a que tivessem certeza da sua vitória contra a doutrina herética, pois os cristãos têm a revelação da verdade. E o Espírito da verdade (conforme o evangelho de João 16.13) é maior do que o espírito que opera nos filhos da perdição. A verdade sobrepuja a mentira, aos falsos profetas. O conhecimento da verdade nos dá fortaleza e nos abençoa a vencer às vãs filosofias e às fábulas que enredam este homem pós-moderno. Mas, as palavras de João foram parar em outro contexto: o de que temos o direito às bênçãos de Deus. A graça sufocada pelo determinismo, pelo “eu quero assim e assim” e “não aceito desse e desse jeito”. Rejeite essa idéia. Saia dessa. Isso é engodo. Irá afastar você do Deus bíblico. Os méritos são de Cristo Jesus, nEle nos tornamos co-participantes das heranças celestes; é pela graça. Isso não se canta, mas é bíblico, Paulo, inspirado, disse: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo: se com ele sofrermos, para que também com ele sejamos glorificados”. Mas quem reconhece essa realidade? Prefere-se ir logo para a glória. Perceba: a glória por vir é antecipada pelos sofrimentos atuais.

É duro ter que dizer, mas ninguém, nem eu nem você, de vontade própria, gosta de abrir mão daquilo que se quer ou tem prazer em negar a si mesmo. Essa é a proposta da vida cristã: tomar a cruz. Ainda que queiram enfiar ouvido abaixo esse evangelho mastigado e um deus que mais parece o gênio da lâmpada, vale a pena dedicar tempo em ler a Bíblia, com olhos livres e mente desarmada e coração aberto. As dúvidas virão, mas tê-las não é pecado, pecado é agir baseado nelas. Não aceite o fácil, afinal o caminho é estreito. Não se canta por aí, mas em carta a Timóteo, Paulo não fez rodeios nem firulas e, inspirado, disse: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2a Carta a Timóteo, capítulo 3, verso 12). Cante isso na sua vida e não tenha medo. Não tenhamos medo e cantemos isso em nossa vida – essa vida curta. Já tem muita gente preocupada com interesses próprios, façamos diferente. Façamos a diferença. E em todas as vitórias que alcançarmos, em Cristo Jesus que nos fortalece, maior será a nossa doação para o Reino. Deus não precisa dessa doação. Nós, sim.

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Aquele abraço! /./ Leo

Um comentário:

Anônimo disse...

Não foi a toa que o Senhor Jesus disse em Mt.6:25-34, nos dando a certeza que a provisão do Senhor é sempre certa. Que Ele nos dá na medida certa, tudo o que precisamos. E isso me move, sabendo que tem um Deus Poderoso guardando a minha vida, sendo o guia dos meus passos. Mesmo que o "tempo feche" na minha vida, sempre vou poder enxergar a luz do farol que me guia, a saber, o Senhor Jesus.