
Outro dia participei de um workshop sobre a indústria do bem-estar.
Direcionada, em princípio, a uma qualidade nutricional que assegure aos gordinhos e gordinhas a perda eficaz de peso, além de uma fonte satisfatória dos nutrientes essenciais para o ser humano, a indústria do bem-estar fatura horrores - assombrosos 100 bilhões de dólares no ano passado!
Em geral, as empresas deste ramo atuam com marketing pessoal de seus clientes. Quer dizer: aquele que adquire os produtos é direcionado (treinado, amestrado a saber como abordar pessoas em potencial e como reagir no caso de rejeição) a se tornar também um distribuidor (ou, se desejar, a ser um supervisor do negócio). Os elos vão se juntando e, em poucas semanas, cada cliente pode ter o retorno de seu investimento (tirando o que retorna para empresa e, proporcionalmente, para todos os outros).
Mas não pára aí: foram apresentados durante o workshop vários extratos bancários em que clientes já administravam cifras acima de 20 mil reais por mês. Fascinante!
Então, as palestras foram desnudando a outra face da indústria do bem-estar: o sucesso.
Entenda-se sucesso como ficar rico. O quanto possível for. Ouvi umas 10 pessoas que já ganhavam fábulas de dinheiro, mas estavam insatisfeitas. Ansiavam por mais. E mais.
A platéia, constituída por jovens e idosos, profissionais liberais, autônomos, desempregados, graduados etc, ouvia embevecida cada palestrante contar sua história de sucesso, graças aos produtos que vendeu. O frisson a cada palestrante anunciado era intenso e sem timidez. Muitos até colhiam rubricas e as exibiam qual um troféu. Ali, no palco, cada palestrante era um ícone, um estágio a ser alcançado, superado - antes disso, todo a admiração deveria ser dispensada.
As palestras, embora temáticas, se convergiam em um tema comum: "você pode direcionar seu sucesso", e "você pode determinar seu futuro", e, ainda, "nossos produtos vão mudar toda a sua vida".
Perto do final do workshop, sem muita dificuldade a semelhança a um tipo não-místico de religião era nítida: a maneira de se entregar cegamente em defesa dos produtos e da empresa e do seu fundador. Cegueira não violenta, diga-se, mas convicta e determinada. O sucesso era um destino só desviado por fracos. Os apelos buscavam tocar as emoções e os desejos. Intimavam a que cada um realmente tivesse a certeza de que havia se encontrado na mensagem passada. E que se determinasse a achar um modo para conseguir o investimento inicial (variando entre 210 e 40 mil reais) e cresse que iria recuperar esse investimento e ganharia mais e mais. Ah, sim, emagreceria, também.
Os produtos funcionam, não tive dúvidas. Contudo, fiquei chocado vendo as pessoas se venderem tão fácil para terem tão pouco. E ainda serem insatisfeitas. Magras em massa corpórea, ricas de papel-moeda, gordas de avareza (que é idolatria), pobres de conforto.
Ali estavam apenas alguns; soube que são muitos e o crescimento é quase exponencial...
Pessoas que se iniciam como devotas do corpo, donas dos seus narizes e anelam poder comprar o que as olhos desejarem. Citaram o nome "Deus". Qualquer coisa que soasse conveniente. Sem vida, porém. Eles são seus deuses. O próprio ventre.
Voltei para casa, sentindo o vento passear pela fronte. Atrás dele, quase todas as pessoas que vi naquele workshop.
Até sempre...
Leo
Direcionada, em princípio, a uma qualidade nutricional que assegure aos gordinhos e gordinhas a perda eficaz de peso, além de uma fonte satisfatória dos nutrientes essenciais para o ser humano, a indústria do bem-estar fatura horrores - assombrosos 100 bilhões de dólares no ano passado!
Em geral, as empresas deste ramo atuam com marketing pessoal de seus clientes. Quer dizer: aquele que adquire os produtos é direcionado (treinado, amestrado a saber como abordar pessoas em potencial e como reagir no caso de rejeição) a se tornar também um distribuidor (ou, se desejar, a ser um supervisor do negócio). Os elos vão se juntando e, em poucas semanas, cada cliente pode ter o retorno de seu investimento (tirando o que retorna para empresa e, proporcionalmente, para todos os outros).
Mas não pára aí: foram apresentados durante o workshop vários extratos bancários em que clientes já administravam cifras acima de 20 mil reais por mês. Fascinante!
Então, as palestras foram desnudando a outra face da indústria do bem-estar: o sucesso.
Entenda-se sucesso como ficar rico. O quanto possível for. Ouvi umas 10 pessoas que já ganhavam fábulas de dinheiro, mas estavam insatisfeitas. Ansiavam por mais. E mais.
A platéia, constituída por jovens e idosos, profissionais liberais, autônomos, desempregados, graduados etc, ouvia embevecida cada palestrante contar sua história de sucesso, graças aos produtos que vendeu. O frisson a cada palestrante anunciado era intenso e sem timidez. Muitos até colhiam rubricas e as exibiam qual um troféu. Ali, no palco, cada palestrante era um ícone, um estágio a ser alcançado, superado - antes disso, todo a admiração deveria ser dispensada.
As palestras, embora temáticas, se convergiam em um tema comum: "você pode direcionar seu sucesso", e "você pode determinar seu futuro", e, ainda, "nossos produtos vão mudar toda a sua vida".
Perto do final do workshop, sem muita dificuldade a semelhança a um tipo não-místico de religião era nítida: a maneira de se entregar cegamente em defesa dos produtos e da empresa e do seu fundador. Cegueira não violenta, diga-se, mas convicta e determinada. O sucesso era um destino só desviado por fracos. Os apelos buscavam tocar as emoções e os desejos. Intimavam a que cada um realmente tivesse a certeza de que havia se encontrado na mensagem passada. E que se determinasse a achar um modo para conseguir o investimento inicial (variando entre 210 e 40 mil reais) e cresse que iria recuperar esse investimento e ganharia mais e mais. Ah, sim, emagreceria, também.
Os produtos funcionam, não tive dúvidas. Contudo, fiquei chocado vendo as pessoas se venderem tão fácil para terem tão pouco. E ainda serem insatisfeitas. Magras em massa corpórea, ricas de papel-moeda, gordas de avareza (que é idolatria), pobres de conforto.
Ali estavam apenas alguns; soube que são muitos e o crescimento é quase exponencial...
Pessoas que se iniciam como devotas do corpo, donas dos seus narizes e anelam poder comprar o que as olhos desejarem. Citaram o nome "Deus". Qualquer coisa que soasse conveniente. Sem vida, porém. Eles são seus deuses. O próprio ventre.
Voltei para casa, sentindo o vento passear pela fronte. Atrás dele, quase todas as pessoas que vi naquele workshop.
Até sempre...
Leo